sábado, 30 de dezembro de 2017

Ruptura



No meu vasto acervo de fanzines - actualmente em poder da Fanzineteca da Amadora - encontram-se edições oriundas dos mais diversos pontos de Portugal. Este Ruptura, por exemplo, foi editado em Vila Nova de Tazem, freguesia do  concelho de Gouveia, em iniciativa do Centro de Difusão de Banda Desenhada Portuguesa, existente na época naquela localidade.

Teve vida efémera o Centro, e o fanzine durou apenas cinco números, mas tanto o Centro como o zine representaram um assinalável esforço de um pequeno grupo local de entusiastas da BD, também organizadores do evento 1ªs Jornadas de Banda Desenhada de Gouveia.

A este propósito, o zine Ruptura inclui uma separata com um texto, de que se reproduz um pequeno excerto:

1ªs Jornadas de Banda Desenhada de Gouveia - 5 a 9 de Agosto de 1982

     Estas "1ªs. Jornadas", organizadas pelo CENTRO DE DIFUSÃO DE BANDA DESENHADA PORTUGUESA - CDBDP, em colaboração estreita com a Câmara Municipal de Gouveia, e com uma grande ajuda dada pelo Clube Português de Banda Desenhada-CPBD e pela Embaixada de França no nosso país, pretendem essencialmente dar à população deste Concelho uma visão, ainda que reduzida, do fenómeno que é a Banda Desenhada na actualidade.
     Desta forma, foi organizada uma FEIRA DO LIVRO que conta, unicamente, com obras de B.D., estando integrada nela a "1ª Feira Nacional do Fanzine". (...)

Por aqui se verifica que os responsáveis pela iniciativa eram amantes da BD e dos fanzines (um deles, Paulo Félix, actualmente a residir em Lisboa, continua a ser bedéfilo e fanzinéfilo). E a banda desenhada ocupa quase todo o corpo do fanzine, além do que fica transcrito acima, publicado na separata, apenas aparece texto logo na página seguinte à capa, de onde transcrevo excertos:

À MARGEM
Cá estamos nós com o primeiro número daquele que esperamos venha a ser o principal meio "paralelo" de difusão da nossa já tão abandonada B.D.!
(...)
ALGUMAS EXPLICAÇÕES

(A) O NOME: Porquê "RUPTURA"?
- RUPTURA, porque pretendemos iniciar algo de novo no que respeita à BD amadora em Portugal!
- RUPTURA, porque, de facto, ruptura significa uma quebra com a tradição e com algo previamente moldado!
- RUPTURA, porque, implícita a este nome está uma ideia de movimento e de novidade!

(B) A APRESENTAÇÃO GRÁFICA
- Sabemos perfeitamente que a apresentação gráfica do presente deixa muito a desejar e procuraremos que ela melhore de número para número, de modo a irmos ao encontro do vosso gosto pois foi para isso mesmo que aparecemos.

(C) O CONTEÚDO
- Pretendemos neste aspecto seguir sempre, em cada número, o mais possível, a seguinte linha de orientação:
1) Nas primeiras 10 a 12 uma história completa (Ficção, Fantástica, Humor, etc.)
2) Ocupando um total de 12 a 14 páginas 3 histórias em continuação das quais duas terão a duração de 2 números, isto é, terminarão no número seguinte àquele em que começaram e a outra terá, no mínimo, a duração de 3 números.       
        
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SMOG







Esta banda desenhada (parcialmente reproduzida) demonstra o talento de um autor, Artur Branco, que desapareceu da arte sequencial, deixando aqui prometedora amostra.

Tal como tinha sido descrito na linha de orientação, SMOG, com onze pranchas, iniciava o fanzine. Outras bandas desenhadas o completavam, terminando com "O Mar Cruel", por Muas (desenhos e adaptação literária de um extrato do livro "The Cruel Sea", de Nicholas Monsarrat), estilisticamente discípulo de Hugo Pratt.

 

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Ficha técnica
Título: Ruptura
Formato: A4
Nº de páginas: 40
(Este número incluía duas folhas soltas, uma a divulgar o evento 1ªs Jornadas de Banda Desenhada de Gouveia, outra a angariar assinantes e trabalhos para serem publicados no fanzine.
Publicação aperiódica
Nº1 - Maio 1981
Editor: Centro de Difusão de Banda Desenhada Portuguesa - CBDDP
Local: Vila Nova de Tazem - 6290 Gouveia
Preço: 30$00 

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Tertúlia BDzine - Uma bd curta de Zé Paulo (Dia Mundial das Curtas de BD)



Em 2016, por associação de ideias, achei que se justificaria plenamente a implantação do Dia Mundial das Curtas de BD. Aconteceu isso no dia 22 de Dezembro de 2016, quando publiquei aqui no blogue uma bd curta de Carlos Corujo "Zíngaro".  (*)
Por alguma razão especial? Apenas para não adiar a ideia, e também porque terá sido o segundo dia mais curto do ano.

E de que poder me arrogo para ser responsável por uma iniciativa que pretendo seja abrangente? Na verdade, nenhum. Sou apenas um amante da BD, conhecido somente num nicho de bedéfilos. Até pode ser que mais ninguém da BD ligue a isto, mas mesmo que seja eu o único a defender a ideia, fá-lo-ei.

Portanto, em 2017, a 22 de Dezembro, cá estarei (assim o espero) a comemorar neste blogue.

E a comemorar como? Da maneira mais pragmática: publicar uma banda desenhada curta de autor português. (**)

(**) É o que acabo de fazer, no principiozinho do novo dia 22 de Dezembro de 2017, com a peça curta mas excepcional de Zé Paulo, sob o título de "O Som de Meter Medo".

(*) http://divulgandobd.blogspot.pt/2016/12/curtas-de-bd-uma-bd-de-carlos-zingaro.html 

Nota do blogger: Este post é uma cópia do que está patente no meu outro blogue "Divulgando Banda Desenhada", com a diferença de nele ter sido publicada apenas a bd, e neste estarem visíveis a capa e contracapa do fanzine, visto que neste blogue se pretende dar prioridade aos fanzines, enquanto que no "Divulgando..." o que está em destaque é a própria banda desenhada. Vejam em http://divulgandobd.blogspot.pt/2017/12/curtas-de-bd-dia-mundial.html 

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Última  nota 
Com certeza que sabem, mas relembro: 
Para aumentar o tamanho da imagem é necessário clicar duas vezes, uma para separar a imagem; em seguida aparece uma lente, clicar sobre ela (peço desculpa a quem está farto de saber este pormenor técnico) 

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Para os bedéfilos mais novos que não saibam quem é (quem foi) Zé Paulo, republico um texto que escrevi no meu outro blogue "Divulgando Banda Desenhada:

ZÉ PAULO
1937/2008

Biobibliografia


José Paulo Abrantes Simões. Lisboa, 4 de Novembro de 1937.

Curso de Pintura da Escola de Artes Decorativas António Arroio.

Em 1974 foram publicadas bandas desenhadas suas na revista alemã Pardon. Mas a sua produção mais importante foi divulgada na revista Visão, que teve doze números editados entre 1 de Abril de 1975 e Maio de 1976.

Para ali fez várias obras de grande nível e variados temas, algumas delas realizadas em colaboração, cujos títulos merecem aqui ficar registados:  
Abril Águas Mil (uma prancha a preto e branco) e Os Loucos da Banda (seis pranchas a cores), ambas as BD's no número 1; Fábula de Um Passado Recente, sete pranchas a p/b (número 4, 15 de Maio de 75) e H20, duas pranchas a pItálico/b (número 5, 1 Junho), ambas com argumento de Victor Mesquita; no n.º 7, Outubro, tem trabalho duplo: Histórias que a minha avó contava paItálicora eu comer a sopa toda (1.º episódio numa prancha a p/b), e a A Batalha de Rzang, 4 pranchas a p/b; no n.º 8, 10 Setembro, mais uma parte da série Histórias que a minha avó contava (...) e o episódio auto-conclusivo O Espantalho, em quatro pranchas a p/b; no n.º 9, de 20 Janeiro 76, outra parte das Histórias que a minha avó contava (...), iniciando-se neste número a narrativa gráfica A Família Slacqç com o episódio Bem Escondidinho, em quatro pranchas a p/b; no n.º 10 está o segundo episódio, Encontro com o Rato Mickey, mais quatro pranchas no n.º 11, O Teu Amor e Uma Cabana, quatro pranchas e no n.º 12, derradeiro da revista, com data de Maio 76, são publicados os últimos dois episódios quatro e quinto (como sempre, a quatro pranchas cada), dessa notável obra da BD portuguesa.
Em 1977 estreou-se no formato de álbum, com capa a cores e a bedê a preto e branco, A Direita de Cara à Banda (Desenhada) que tinha feito para o jornal Diário, com o título Os Direitinhas, de que foi aproveitada uma parte para o álbum.
Em 1979 escreveu e desenhou Memórias do Último Eléctrico do Carmo, bedê a preto e branco publicada no suplemento portador do curioso título DL Fanzine, do jornal Diário de Lisboa.
Colaborou com bedês de caracter infantil na revista Fungagá da Bicharada.
Na revista Lx Comics (n.º 3, Inverno 1991) fez uma prancha para o cadavre exquis Elxis, que tinha sido iniciado no n.º anterior por Bandeira, e foi continuada no seguinte por Pedro Burgos, mas o tal cadáver esquisito não chegou a ser acabado, porque a Lx Comics — que era propriedade de editora identificada pela sigla MFCR, apoiada pelo pelouro da cultura da Cãmara Municipal de Lisboa — finou-se nesse quarto número, talvez abafada pelos calores do Verão de 1991, ou por outra razão qualquer que não vem agora ao caso tentar deslindar.
Zé Paulo participou na obra colectiva Novas "fitas" de Juca e Zeca, editada num fanálbum em Julho de 2000, com o sarcástico episódio Satanás 3, Deus 1
Para o mesmo editor-amador (o autor destas linhas) têm sido as suas mais recentes colaborações em BD, todas em 2007: no fanzine Efeméride (n.º2 - Fevereiro), de novo a parodiar um herói clássico, "Príncipe Valente no Século XXI", com a sátira O Valente do Casal; depois, no fanzine Tertúlia BDzine (n.º 115 de Julho, n.º 117 de Setembro, n.º 120 de Dezembro de 2007 e nº 123 de Março 2008) fez, respectivamente, as seguintes bandas desenhadas (todas com quatro pranchas a p/b): Fim-de-Semana... Num Futuro Muito Próximo, Príncipe Valente no Século XXI Descendo a Calçada dos Cavaleiros em Contramão, A Mão Cheia, tratando-se esta última de bd redesenhada sobre original da década de 1980, e O Som de Meter Medo, no Tertúlia BDzine nº 123, de Março 2008.

E para o renascido fanzine Eros (n.º10) datado de 2007, quarto trimestre, escreveu e desenhou em quatro pranchas a p/b, a história Luisinha, uma peça ao mais recente estilo ZÉPAULO, como ele ultimamente assinava.
Derradeiramente, está presente no terceiro número do fanzine Efeméride em mais uma banda desenhada, intitulada Esperman, integrada na obra colectiva Super-Homem no Século XXI, onde voltou a trabalhar a cores, género que pouco cultivou na BD, mas que dominava com eficácia e sensibilidade.

Faleceu em 23 de Dezembro de 2008.
 Geraldes Lino