quinta-feira, 26 de abril de 2018

Quadrinhos - Últimos números editados em 1974

                 

                                                      Número 7 - Janeiro de 1974


 
                                                               Nº 8 - Novembro 1974 

Último número do fanzine Quadrinhos, de que possuo duas versões diferentes, no que se refere à cor da capa, talvez devido a nova tiragem de uma quantidade não indicada de exemplares


 
Como já tenho escrito, os fanzines são sempre temáticos (BD, Música, Ilustração, Poesia), sendo os mais numerosos, entre nós, os dedicados à BD.
Dentro desse tema, eles dividem-se em:

1) Fanzines de banda desenhada (os que são preenchidos, na sua totalidade, por bedês);
2) Fanzines sobre banda desenhada (os que se dedicam a publicar textos sobre BD: estudos, críticas, notícias, entrevistas com autores, editores, coleccionadores, fanzinistas);
3) Fanzines com banda desenhada (aqueles que incluem artigos de diferentes temas, intercalados por apenas duas ou três bandas desenhadas.

O fanzine Quadrinhos começou por ser "sobre banda desenhada", como se depreende pela leitura da síntese do conteúdo do nº 0, totalmente preenchido por artigos e notícias.

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Quadrinhos - Fanzine de Banda Desenhada (*)
Fanzine aperiódico "para defesa e ilustração da banda desenhada
Formato A4, com número irregular de páginas, entre 10 e 18, sendo habitualmente de papel de cor (amarela, roxa, verde, rosa) a capa, ou primeira página, e o miolo constituído por folhas por vezes de cores variadas no mesmo exemplar, agrafadas com apenas um agrafe no canto superior esquerdo
Nº0 - Abril de 1972
Editor: Vasco Granja

("Se quiser receber o número 1 envie 5$00 em selos de correio para Avenida Bartolomeu de Gusmão, 4 - 2º -D. Damaia" - era a nota existente na página 2 do nº 0, de Abril 72)

(*) Editados 8 números, entre Abril de 1972 e Novembro de 1974. 
Por conseguinte, entre outros méritos, Vasco Granja foi um dos primeiros faneditores portugueses.
  
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A seguir reproduzo uma entrevista que fiz em 1984 na revista "Coleccionando" a Vasco Granja, faneditor do zine "Quadrinhos", cujo último número foi editado em 1974



    Foto: G.Lino

                                            

Continuo hoje a tarefa de reproduzir entrevistas que fiz na década de 1980 a coleccionadores de banda desenhada. Vasco Granja, que sempre dividiu a sua actividade por duas artes - BD e Cinema de Animação - foi o alvo que escolhi nessa altura com destino às páginas da revista Coleccionando (nº7,Jun./Jul.1984).

A minha convivência com Vasco Granja já vinha desde 1976, aquando da fundação do Clube Português de Banda Desenhada-CPBD, de que fiz parte da direcção, e cujos membros eram praticamente todos clientes de Vasco Granja, na sua qualidade de importador de BD, que acumulava com a função de empregado da Livraria Bertrand e, mais tarde, com a de director da revista Tintin (nos derradeiros anos da publicação). 

Como a sede do CPBD era em Benfica, íamos uns tantos, após as reuniões aos Sábados, à Damaia, a casa dele, onde nos esperava com o "material" (termo carinhoso usado por nós) composto essencialmente por publicações estrangeiras (revistas e álbuns, e também fanzines franceses de estudo da BD), revistas espanholas e italianas, nada de comic books, e sim alguns livros americanos - monografias, por exemplo -, tudo espalhado sobre uma grande mesa na sala de jantar.

Em 1978, Vasco Granja convidou-me para fazer parte do grupo de portugueses (autores de BD, amantes de BD...) que iriam a Itália representar Portugal no pioneiro Salão Internacional de Banda Desenhada de Lucca.

Iniciava eu, assim, sempre com ele, uma série de participações em Lucca, em Angoulême, em Barcelona, nos respectivos eventos de BD. Daí o tratamento por "tu" que a certa altura passámos a usar, e que está patente na entrevista que reproduzo aqui por baixo, publicada na acima citada revista Coleccionando.

(Vasco Granja faleceu a 4 de Maio de 2009).

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- Quando comecei a coleccionar BD,

ainda nem sabia ler

- recorda Vasco Granja


Vasco Granja é um nome bem conhecido do público, quer o que se interessa pela Banda Desenhada, quer o que prefere o Cinema de Animação.

Efectivamente, ele tem desenvolvido notável actividade nestas duas áreas: o seu programa na TV é bem popular e, quanto ao seu esforço em prol da divulgação da BD, o Prémio Saint-Michel 72 que lhe foi atribuído na Bélgica pelo "Club des Amis de la BD-CBD" é a prova de que o seu nome há muito se projectou além fronteiras.


Vasco de Oliveira Granja nasceu em Lisboa, a 10 de Julho de 1925. A sua actividade na Banda Desenhada tem-se repartido por diversos campos: ele é, desde meados dos anos sessenta, importador e distribuidor de revistas de BD; foi director da revista Tintin - embora apenas nos dois últimos anos de existência daquela publicação -, mas foi o responsável pelos diversos suplementos e, em especial, pela secção "tintin por tintin" desde o segundo mês da existência da rubrica; como divulgador e estudioso iniciou-se com artigos sobre BD, Cinema e Animação no suplemento "Bastidores", do extinto jornal República, nos meados dos anos sessenta. 
Mais recentemente, ele tem colaborado na revista semanal TV Guia e no matutino Diário, sendo neste último que mais frequentemente se debruça sobre temas de banda desenhada.

Por agora, e atendendo às características da rubrica "Coleccionando BD", este contacto com Vasco Granja tem como objectivo conhecê-lo enquanto coleccionador da especialidade.
Ele possui exemplares de grande raridade, em especial edições estrangeiras. No que se refere a edições portuguesas, o seu acervo não será tão significativo, o que não quer dizer que não tenha sido, na fase inicial da sua vida, coleccionador de revistas de histórias aos quadradinhos.

Não é verdade, Vasco Granja?

- Sim, e isso desde os quatro ou cinco anos, quando ainda nem sabia ler. Nesse tempo, a família comprava-me, ou dava dinheiro para eu comprar, O Senhor Doutor, Tic-Tac, O Mosquito.
Comprei o primeiro número do Mosquito numa tabacaria que ainda existe na Rua da Rosa (aprendi a ler na Escola 12, situada nesta rua, na esquina que dá para a Rua da Atalaia).
Ansioso pela saída das revistas, visitava as instalações do Tic-Tac, Senhor Doutor, Mosquito, Pirilau...
Uma vez pedi emprego ao Cardoso Lopes...
No entanto, por volta dos doze anos, desisteressei-me da BD e ofereci aos elementos mais novos da família todas as revistas que tinha, o que hoje lamento.
Essa mudança deu-se a favor do Cinema e, por essa razão, passei a coleccionar revistas de cinema - Cinéfilo, Cine-Jornal, Animatógrafo...

- Tens algumas colecções de BD completas?
- As minhas colecções têm um carácter de consulta, não procuro completar a todo o custo as publicações que vou juntando, de banda desenhada, cinema, literatura, ecologia, naturalismo, arte, política,etc.
Apesar disso tenho algumas colecções completas: Cavaleiro Andante, Tintin, Visão, Jornal do Cuto, Phénix...

- Entre as colecções que possuis, qual a que consideras melhor, quanto ao conteúdo?
- A melhor colecção de revistas que possuo é a edição portuguesa da Tintin.

- Na tua opinião, qual é a colecção portuguesa de BD mais valiosa?
- Bem, aquela que tem maior cotação é, indiscutivelmente, a do Mosquito. É aquela que é mais procurada.

- Estás neste momento a coleccionar alguma revista portuguesa de BD?
- Não.

- Qual foi a última que coleccionaste, número a número, à medida da sua publicação?
- Tintin.

- Estás a coleccionar alguma revista estrangeira de BD?
- Diversas: (A Suivre), Metal Hurlant, Totem, Rambla, Circus, Comix, Ilustración, Schtroumpf-Les Cahiers de la BD, Nemo, Epic, Heavy Metal, Linus, 1984 (que já acabou)... São tantas!

- No que se refere a álbuns, revistas ou livros sobre BD, tens algumas peças valiosas?
- Julgo ter algumas peças de valor no que se refere a álbuns de banda desenhada oferecidos pelos autores.
É difícil distinguir, no entanto destaco obras de Hergé (o exemplar nº 429 de uma tiragem especial de quinhentos exemplares de "Les Aventures de Tintin au Pays des Soviets"), Jacobs, Jacques Martin, Hugo Pratt, Jijé, Palacios, Blasco, Craenhals, Ribera, Godard, Bob de Moor, etc.

- Para além dessas peças valiosas de BD, e das revistas estrangeiras, coleccionas mais alguma coisa?
- Colecciono selos (guardo todos os que tenho encontrado desde miúdo), correspondência variada, romances, poesia, ensaio (oferecidos por autores como Aquilino Ribeiro, Alves Redol, Manuel da Fonseca, Raul de Carvalho, António Ramos Rosa, José Gomes Ferreira, Vitorino Nemésio, etc.); filmes (tenho quase toda a obra de Norman McLaren), originais de banda desenhada (Eduardo Teixeira Coelho, Al Williamson, Philipe Druillet, Mort Walker, Alfred Andriola, etc.), grande variedade de livros de cinema (história, biografia, crítica, sociologia, técnica); discos (todas as sinfonias de Beethoven, óperas como "Carmen", a obra completa dos Beatles, Simon e Garfunkel, Bob Dylan, etc.; grande variedade de cartazes de filmes da Campanha de Dinamização Cultural, de festivais de diversa natureza.
Colecciono também postais de todos os lugares por onde tenho andado e também uma grande variedade de roteiros de viagem, guias turísticos, monografias sobre paisagens, monumentos, etc.
Colecciono fotografias de filmes, programas de cine-clubes quando enfrentavam a censura.
Colecciono jornais (República, por exemplo) e recortes acerca da evolução política em Portugal eno mundo desde a Segunda Guerra Mundial.
Colecciono entrevistas gravadas com cineastas e autores de BD. Muitas delas encontram-se inéditas.
Colecciono tudo o que se refere ao cinema soviético, com destaque para Vertov e Eisenstein.
Colecciono fotografias de família e de personalidades com quem tenho contacto e também de manifestações populares.

- Lembras-te de algum episódio pitoresco ligado às tuas actividades na BD ou no Cinema?
- Uma vez, em 1979, fui a Moscovo em busca de elementos acerca do cineasta Dziga Vertov, falecido em 1954. Recebido na União de Cineastas da URSS, expus o meu programa. Indiquei que gostaria de encontrar o crítico cinematográfico Fevralski, que em 1925 escrevera na Pravda a propósito de Vertov e da sua atitude inconformista, defendendo os seus pontos de vista. Ignorava se Fevralski ainda era vivo. Ninguém mostrou saber alguma coisa dele. No dia seguinte, Fevralski, tendo cerca de oitenta anos, aguardava-me no referido local. Sabia algumas palavras em português. No dia seguinte, em sua casa, mostrou-me a sua colecção de livros portugueses: Eça de Queirós, Alexandre Herculano, peças de teatro, volumes sobre a História de Portugal.

- Tens alguma recordação desagradável em relação à perda de exemplares ou colecções que tenhas possuído, ou relacionada com as tuas actividades na Banda Desenhada?
- Não se trata bem de uma recordação desagradável, mas a primeira vez que contactei E.T.Coelho em Florença, equipado de gravador e câmara fotográfica, o desenhador recusou ser entrevistado.
Todavia, permitiu-me uma longa conversa de cinco horas, decorridas em sua casa, num restaurante e nas ruas de Florença, repletas de História. 

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