quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Hop! - Fanzine francês (Parte 1 de 3)




Hop! é um fanzine francês de muito bom nível, de que traduzo excertos de textos dedicados a vários autores, maioritariamente  franceses, e a fanzines de diversas origens:  franceses (obviamente) espanhóis, italianos, belgas, holandeses e alemães (infelizmente, nenhum português).
Vejamos a ficha técnica:   

Hop! Revue trimestrielle de l'A.E.M.E.G.B.D.  (Association d'Étude du Mode d'Expression Graphique de la Bande Dessinée), association à but non lucratif (...) Fondée le 18 décembre 1972 (...) Siège Social: Aurillac.

Revue (revista) é como escrevem os seus editores na ficha técnica, mas mais abaixo surge o esclarecimento:
"Avertissement: Hop! est un fanzine réalisé sans but lucratif et toute participation est bénévole".

Por conseguinte, chamar-lhe revista tem a ver com o formato, mas todos os outros pormenores obedecem ao conceito de fanzine, ou seja, é editado sem fins lucrativos e toda a colaboração é benévola.

Na página 53 aparece uma caixa com um texto entusiasmado, mencionando o facto de, entre outros fanzines, Hop! ter obtido o segundo lugar:
"Savez-vous que Hop!, dans le referendum de Sapristi, arrive en seconde place (avec 22%) dans les autres fanzines lus par les lecteurs de Sapristi, derrière PLG (30%)"     

Impressa no tradicional offset - entre os franceses aficionados da BD há muitas pessoas de bom nível económico, daí poderem pagar impressão de qualidade -, esta publicação insere-se no conceito de fanzine por vários factores já mencionados antes, mas em especial pelo facto de a sua edição dever-se a uma associação cultural sem finalidades de lucro.

Claro que apresenta na capa o preço de 40F porque, obviamente, para poder ser vendido tem de mostrar de forma visível essa informação, mas a Associação de Estudo do Modo de Expressão Gráfico da Banda Desenhada, como entidade cultural que se assume sem fins lucrativos, não pretende lucrar (nem isso seria viável) com a venda do zine Hop! - que apresenta o subtítulo "Revue d'Informations et d'Études sur la B.D." - apenas tem a pretensão de recuperar o investimento, a fim de investir na edição seguinte.
O antiquado preço de 40F deve-se ao facto de se tratar do nº70, editado no 1º trimestre de 1996.

Considerando que o seu conteúdo é totalmente composto por textos - estudos, entrevistas, biografias, bibliografias, noticiários, críticas sobre BD, novidades das editoras, apoio aos coleccionadores, informações sobre o movimento editorial de França e de outros países, nomeadamente Bélgica, Jugoslávia (atenção, isto passa-se em 1996), Grã-Bretanha, Espanha, Itália, U.S.A. - e um grande espaço de duas páginas e meia para a "Rubrique Fanzines" -, tem de se classificar como fanzine sobre BD, ao invés de outros que maioritariamente publicam bandas desenhadas, sendo classificáveis como "fanzines de BD".
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Robert Gigi é o nome que aparece na rubrica "Invité" desta edição. Como convidado tem direito a um texto introdutório bibliográfico, seguido por uma entrevista. No citado texto pode ler-se o seguinte (excerto):

"Robert Gigi desde há alguns anos desapareceu do mundo da BD. Com efeito, ele decidiu retirar-se após uma carreira prolífica de mais de 40 anos, para se dedicar a uma arte que até ao presente não tinha tido tempo de praticar: a escultura.
(..) é bem conhecido dos aficionados da BD graças às personagens "Ugaki le samurai" ou ainda "Scarlett Dream". Lembram-se igualmente do seu dossiê sobre os discos voadores, sob argumento de Lob, publicado na Pilote e depois em álbuns pela Dargaud (...)
(...) Poucos álbuns, algumas raras entrevistas e, à parte a excelente obra "Rêves Ecarlates" (Aedena 1987), fazem com que este talentoso autor, pilar do célebre e mítico "Atelier 63", permaneça ainda por descobrir (...) embora dotado de um grafismo pessoal e original. (...)"
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Robert Gigi é em seguida o alvo de extensíssima entrevista - sete páginas! - e copiosa informação bibliográfica, embora nunca seja indicado onde nasceu (Besançon, França) e a sua data de nascimento (29 Julho 1926).
Em contrapartida é explicado, logo no texto introdutório, que Gigi não é pseudónimo, mas sim um patronímico.

A entrevista inicia-se com a pergunta: "Pendant ton enfance, est-ce que tu lisais des illustrés?
Trata-se de uma questão sacramental saber se o entrevistado, na sua infância, lia revistas de banda desenhada, designadas em tempos antigos, em França, por "illustrés".

A resposta de Gigi:
- Eu lia o jornal de "Mickey", de que era um fiel leitor desde o primeiro número. Mas depois chegou a guerra e a evacuação que bastante me perturbou e me fez sair brutalmente da infância (...)


(...) - A tua primeira bd publicada é "Fabiola" para o semanário "Samedi-Dimanche". Foi um ano antes da estreia do filme, houve alguma ligação?

- Sim, eu tinha fotos do filme com Michèle Morgan, Michel Simon, Henri Vidal. [A minha bd] foi publicada na página central (que honra para um principiante/). Mas o semanário deixou de publicar-se antes do fim da publicação da banda desenhada e eu não recebi o pagamento! (Belo início na especialidade!...).

(...) Moliterni e eu fizemos "Scarlett Dream", na mesma linha de ficção científica erótica. (...)"
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Segue-se no conteúdo uma ronda pelas editoras de BD e respectivas produções.

DARGAUD - Éditions Dargaud, Paris, é a editora que aparece em primeiro lugar, com a sua extensa lista de edições em 1996. Na listagem apresentada, logo no início aparece notícia dedicada à série Tanguy e Laverdure, que à data estava a ter direito a edição integral deste clássico criado pela dupla Charlier, argumentista, e Uderzo, desenhador.
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LOMBARD - Éditions du Lombard (Bélgica, Bruxelas) outra das grandes editoras observada pelos colaboradores do zine Hop! Uma das obras mencionadas é a integral dedicada à série Bob Morane, da dupla Henry Vernes, argumentista, e William Vance, desenhador.
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GLENAT - Éditions Glenat é uma editora francesa situada em Grenoble com muitas obras importantes a seu crédito. Nesta data [1996] destacava-se Titeuf, de Zep, que tinha nos escaparates o 5º volume.
Agora falo eu, blogger: Conheci pessoalmente Jacques Glenat, fundador da editora, que começou por ser editor de um fanzine (um faneditor) em 1969, o Schtroumpf les cahiers de la bande dessiné, que mais tarde transformaria em revista comercial/profissional. 
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CASTERMAN - Editora incrivelmente antiga, fundada em 1780, localizada em Tournai, Bélgica. Aparece com uma lista iniciada pela obra Fort Wheeling, de Hugo Pratt. No 2º tomo editado neste ano [1996] sobressai Criss Kenton, envolvido na guerra da Independência dos futuros Estados Unidos da América.
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DUPUIS - Bélgica - Editora fundada em 1922, sempre aparece ligada à revista Spirou, começada a publicar em 1938. Nesta data a Dupuis estava com uma tarefa importante, a de editar a colectânea Tout Jijé, que ia no volume nº10 (anos 1963-64), onde constavam episódios dedicados a "Le Retour de Valhardi", a Jerry Spring e à dupla "Blondin et Cirage".
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Como seria de esperar, a produção estado-unidense fica sob o foco dos redactores do fanzine. Assim, a rubrica "Informations U.S.A. divulga obras em publicação nos Estados Unidos da América. 

The Complete Crumb Comics", da Fantagraphics: é comentado o 11º volume, que apresentava o subtítulo "Mr.Natural", editado em Setembro de 95 (digo eu, blogger: ter em atenção que este nº 70 do zine Hop! está datado de 1996). 

Tarzan - Outra obra de prestígio, de que está em andamento a reedição integral da fase da autoria de Burne Hogarth, falecido em Janeiro de 1996 após o Festival de Angoulême 
(eu, blogger, tinha estado a conversar com ele durante o festival).

The Calvin and Hobbes 10th Anniversary Book - Livro de 208 páginas, em que Bill Watterson dá a
conhecer as suas opiniões acerca das comic-strips. 

Frazetta - Tratado num soberbo dossiê realizado num número anterior do Hop! (nº 69 - Nostalgie BD), esta retrospectiva faz a análise da exposição-venda feita em Novembro-Dezembro 1994 na Alexander Gallery. 

Eisner - O verbete refere o estudo genial "Comics & Sequential Art", que analisa a linguagem específica da BD, a que se segue "Graphic Storytelling", 164 páginas copiosamente ilustradas, estudando os princípios das narrativas gráficas, editado pela Kitchen Sink. 
Tão incontornável como a obra anterior, considera o articulista.

The Art of the Comic Book - Obra muito teórica, dedicando-se preferencialmente ao historiador ou ao crítico, mais do que ao futuro bédessinateur, é um estudo de Robert C. Harvey, colaborador de longa data do "Comics Journal" que se debruça sobre a evolução do comic book dos anos 30 aos nossos dias (1996, relembro) para avaliar as etapas e o progresso desta forma de arte narrativa, através das bandas desenhadas de Jack Kirby, Crumb, etc., 228 páginas, Universidade de Mississipi.
(Nota do blogger: uma obra de estudo sobre BD editada por uma universidade, coisa impensável, infelizmente, em Portugal). 

Alex Toth by Design - Uma sorte nunca vem só: depois do Alex Toth publicado por Kitchen Sink, eis agora 360 páginas que apresentam e comentam nada menos do que 250 ilustrações produzidas por Toth. 

Li'l Abner - (...) Em Junho deveria sair o 23º volume, dedicado ao ano de1957. O quarto tomo da era Frazetta apresenta um interesse particular para os fãs de Elvis Presley (...) porque o seu ídolo é imortalizado sob os traços fisionómicos do cantor Hawg McCall (...)

Kurtzman - "(...) Uma exposição intitulada "Harvey Kutzman: Um Génio da Mad" teve lugar no Cartoon Art Museum, de São Francisco, de 20.12.95 a 28.4.96. Apresentava em duas salas não menos de 70 originais, na sua maioria provenientes dos arquivos Kurtzman confiados à guarda de Denis Kitchen. Quem não teve a oportunidade de visitar esta exposição pode compensar-se com o muito belo catálogo (a encomendar a Bull Plant) e ler o artigo que a ele consagra Darcy Sullivan no "Comics Journal" nº 185 (...)" (...)

Comics Journal - "O que nos aconteceria sem este formidável órgão da imprensa especializada, que já vai nos seus vinte anos, e cuja agressividade editorial lhe angariou uma soberba equipa de inimigos declarados, no próprio seio da profissão. Se o nº181 nos deslumbra com Stan Lee na capa, ficamos relativamente desiludidos por não encontrar no conteúdo, em vez da tradicional entrevista, que constitui habitualmente o prato de resistência, a opinião mais ou menos desenvolvida de uma quarentena de profissionais acerca de Stan Lee (...)" 

Batman Black and White - "Trata-se de uma mini-série de 4 números, pela DC,  contendo episódios (4 a 8 pranchas) pelos maiores da profissão. No nº1: Joe Kubert (arg. e desenho), José Muñoz, Bruce Timm, Howard Chaykin e Ted McKeever mostram a sua versão "negra" do herói, e Moebius colabora com uma ilustração. Anunciados para a continuação: Nowlan, Liberatore, Otomo, Bolland, Toth... (...)" 

Pogo - "(...) Não recuando perante qualquer sacrifício, a [editora] Fantagraphics continua a editar um integral de Pogo (de Walt Kelly) por pequenas fracções cronológicas : acaba de sair o tomo 5, abarcando as tiras de Novembro 1950 a Abril de 1951. Por este andar, a última tira deveria sair em 2015 (...)"
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RUBRIQUE FANZINE

Chego finalmente ao assunto que mais directamente me interessa, e que, aliás, maior consonância tem com este blogue "Sítio dos Fanzines de Banda Desenhada".

Claro que apenas seleccionarei alguns títulos dos países destacados: França (obviamente), Espanha, Itália e Bélgica.
Numa parte mista ("Divers") lá aparecem fanzines de países com menor produção: Holanda, Alemanha, Finlandia, Dinamarca (nem nesta rubrica aparece Portugal, hélas...).
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FRANÇA

Sapristi - No nº 38 este zine sai do fanzinato para passar a SARL (digo eu, blogger: assim está escrito no texto, interpreto como sendo a passagem a revista comercial/profissional). 
Isto não altera nada à fórmula [do anterior fanzine], que apresenta um grande dossiê sobre Loustal, enquanto que no nº39 se interessa por Cabanes e Coyote (...) 

Fun en Bulles nº 9 - O zine propõe 48 páginas de bandas desenhadas de amadores, mas também poemas, desenhos, e publica o capítulo 3 da primeira bd de Mounier. Este fanzine está pronto para publicar as vossas BD (...)" 

Le Collectionneur de BD nº79 - "É um grosso (68p) exemplar fora de série,e publica "As Origens da BD" com as actas do colóquio organizado durante o anterior salão de Angoulême que contou com a participação de numerosos especialistas (...) 
O nº80 retoma a sua fórmula habitual (...) continua o estudo "Jazz et BD". Um bom número de 52 páginas a encomendar a: 23 rue des Sources, 72390 Dollon. 

9e Art - Primeiro número dos "Cahiers du Musée de la BD (CNBDI, 121 route de Bordeaux, 1600 Angoulême) surgido em Janeiro [1996]. Bela revista (*) de 144 páginas (publicação anual) apresenta dossiês sobre Alain Saint-Ogan, Töpffer, Gotlib, Bud Fisher, a autobiografia em BD, algumas pranchas inéditas de Baudoin, Juillard, Tripp" (...)
(*) Ou seja: 9e Art é uma publicação editada pelo CNBDI, entidade cultural não comercial, por isso classificável como fanzine, embora em modo de revista.
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ESPANHA

El Wendigo nº 69 - Compõe-se de 44 páginas, com artigos sobre Scott McCloud e Ken Loach, os prémios Haxtur e o "Salon des comics des Asturies" (...) entrevistas com Neil Gaiman, Tim Burton, etc. (Apartado de Correos, 461 Gijon)

El Boletin - No sumário relativo às 40 páginas (A5) do nº 33: homenagem a Manuel E. Darias, o salão de Barcelona, Pratt (...)

O Fanzine das Xornadas - Edição do festival BD de Ourense (Galiza) que, em 28 páginas publica artigos, BD, faz registo de fanzines, e uma entrevista com José Carlos Fernandes, e inclui um suplemento de 28 páginas que é o catálogo da 6ª exposição internacional de fanzines e prozines de BD (Rua Manuel Murguía 15,5ºD - 32005 Ourense).

Comic Guia - nº30 - São 44 páginas em A5 onde se pode ler um artigo sobre os 40 anos de Ric Hochet, e também elementos biográficos dos autores Tibet e Duchateau, além de um estudo acerca do herói El Capitan Trueno, e inclui a continuação do dicionário de BD. (Francisco Tadeo Juan, c/Editor Manuel Aguilar 17-7º - 46001 Valencia, España) 

Nota do blogger: Já antes falei aqui desta "publicación cultural sin ânimo de lucro", como se pode ver em: 
 http://sitiodosfanzines.blogspot.pt/2016/10/comicguia-fanzine-espanhol.html      

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 ITÁLIA

Fumetto - É o grande veterano dos prozines (*) italianos, lançado em 1971 sob o título "Il fumetto" pela ANAF (mudada actualmente para ANAFI). Bela publicação que privilegia o estudo da BD, com entrevistas a Lino Jeva e às BD sobre a Resistência (Nº14), a Stefano Voltolini acerca de Dylan Dog (Nº15), a Jacovitti (17) e dossiês sobre Galep (14), BD inglesa (16) (...) 
(*) Prozine, porque os editores são [pro]fissionais da especialidade

BÉLGICA

Pream-Bulle - É o boletim do CBBD que consagra o seu número 26 a Morris, e festeja os 50 anos de Lucky Luke com uma exposição organizada pelo CBBD.

Les Amis de Hergé - 48 páginas para o nº22 do semestral consagrado a Hergé e às suas personagens (...) inclui homenagem a Germaine Rémi, primeira esposa de Hergé, falecida em Outubro.

ReB "Rêve-en-bulles" - Nº12, (48 páginas mais 36 de BD Flash).
Na capa, Andréas, convidado deste número onde se encontra também: Renaud, Baru, Neuray, Baruti. Em estreia, um fascículo A5 de 16 páginas "Le rebelle" com BD de amadores (...) Este fanzine é realizado por B. Houbart, Allée de la Fragne 13, B1400 Nivelles. 

Auracan - A festejar o seu Nº13 com "XIII", com os seus autores, o argumentista Jean Van Hamme e os desenhadores das suas diversas séries: Aidans, Benoit, Chéret, Dany, Francq, Géri, Griffo, Rosinski, Valles e Vance (...) 

DIVERSOS (Diversas nacionalidades, acrescenta este escriba)

Stripschrift - (Postbus 84206, 3009 CE Amesterdão, Holanda) O mais antigo fanzine da Europa continua em forma, com artigos dedicados a Sarajevo Tango, Andreas, Superman, Adler, Charles Burns (...) 

Comixene - Nº57 com 84 páginas sobre a actualidade da BD (...) Esta estupenda publicação amadora alemã apresenta artigos e uma entrevista com Burne Hogarth (foram a tempo, comenta este blogger...).

Bild & Bubbla - Nº6/1995 - 36 páginas A4 com actualidade da BD, artigos vários, um sobre Crumb, uma entrevista com Dan Clowes (...) Box 8135, 10420, Estocolmo, Suécia (na ficha do Hop! indicam "Danemark" (!) 
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Este post ainda não está completo porque a plataforma Blogger tem uma determinada limitação de caracteres. Por conseguinte a única hipótese é a de continuá-lo em mais duas partes. Assim, esta é a Parte 1 de 3                

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