quarta-feira, 15 de março de 2017

Quadrinhos - Fanzine de Banda Desenhada - Editado do nº 0 (Abril 1972) ao nº 8 (Nov.1974) - Editor: Vasco Granja

                                                      Número 0 - Abril 1972
 

Quadrinhos, Fanzine de Banda Desenhada, de Vasco Granja, é um dos oito fanzines editados em 1972, Ano I dos zines em Portugal.

Vale a pena clicar sobre a capa deste nº 0, com data de Abril de 1972, para ler o sumário da edição inicial, onde já fala de "Um fanzine português: Argon", editado quatro meses antes.

Veja-se, em síntese, o conteúdo deste número inicial:
- "Definição de Banda Desenhada"; 

- "O Prémio Saint-Michel 1972 de promoção da banda desenhada"; 
- "Phénix" nº 19; 
- "Encontro com Hogarth"; 
- "Encontro com Gigi"; 
- "Feiffer em «Charlie»"; 
- "La bande dessinée peut être Educative", crítica a livro de Antoine Roux"; 
- Notícia sobre a revista "Vampirella" - nº 15 - Jan. 1972, com Direcção de James Warren, e colaborações de Jose Bea, Richard Corben, Luis Garcia, Jose Gonzalez e Nebot."; 
- Prefácio de Jacques Lob para Hypocrite et le monstre de Loch-Ness"; 
- Curta notícia intitulada "Um fanzine português: Argon".

Vários dos textos eram da autoria de Vasco Granja, editor e redactor, mas que também aproveitava/traduzia textos de outras publicações.

De salientar o facto de todos os textos do fanzine serem dactilografados, trabalho artesanal efectuado pelo próprio Granja.

Outro aspecto que merece referência: Vasco Granja nasceu a 10 de Julho de 1925, quando começou a editar este fanzine tinha portanto 46 anos.
Ora o primeiro verbete com o neologismo "fanzine" que existe em dicionário é no da Porto Editora, 8ª edição, datado de 1998, onde começa por dizer:


Fanzine -s.m. -Revista editada por jovens.......
 
Portanto, está bem a indicação de "substantivo masculino" (na mais recente edição, de 2009, a indicação passou a ser n.m., ou seja, nome masculino).

O que não está bem é a indicação de os editores de fanzines serem obrigatoriamente jovens, porque, tanto nos Estados Unidos como em França, primeiros países onde se editaram fanzines, os faneditores eram habitualmente adultos, mesmo que ainda jovens adultos.

Em Portugal, dos oito fanzines editados em 1972, Ano I dos fanzines portugueses, quase todos eles foram editados por adultos. Vasco Granja foi um deles.


                                                             Número 1 - Maio de 1972

O nº 1 manteve-se dedicado apenas à publicação de notícias, entrevistas e artigos, aparecendo um deles assinado por Jorge Magalhães, nome que viria mais tarde a ser essencialmente prestigiado como argumentista, mas que aqui escreveu acerca de "Cinema e História em Quadrinhos. Duas Artes afins".


                                                            Número 2 - Junho 1972

Curiosamente, nesse início da década de setenta do século passado, Jorge Magalhães, mais tarde prolífico argumentista de BD e coordenador da revista Mundo de Aventuras, estava em Angola, como se vê no presente número deste fanzine, onde se lê:

"O nosso colaborador Jorge Magalhães está interessado em adquirir os números 713 a 748 do "Mosquito". Endereço: Caixa Postal 21 - Porto Aboim - Angola."


Nas entrevistas está uma assinada por Henri Filippini a Claire Bretecher, que fala da sua série "Gnan-Gnans", aceite por Yvan Delporte, chefe de redacção da revista "Spirou", embora o seu substituto tenha suprimido a série (com bastante desagrado de Bretecher), ao que parece por tê-la achado parecida com os "Peanuts", de Charles Schulz.
Destaque ainda neste nº 2 para a rubrica "Fanzinelogia", onde são recenseados vários fanzines, entre os quais:

- Ploff, órgão do Cartoon Museum, que contém a relação da obra de Russ Manning;
- Zine-Zone, nº 5, Jan.Fev.1972, salienta-se um texto de J.P.Dionnet acerca de Murphy Anderson;
- Impulse (também tivemos em Portugal o fanzine Impulso), cujo primeiro número, sob apreciação, é totalmente composto por desenhos originais de Joe Sinnot, Roy Krenkel, Bill Elder e outros. O seu editor é indicado na ficha técnica: Clifford Letovsky (17, Holly Road, Hampstead 254, Québec, Montreal, Canada)
- Alfred - Elo de ligação da Société Française de Bandes Dessinées, refere no nº28 (Abril de 1972) o encontro de Lucca, que estava nessa data já a ser preparado (para o mês de Outubro daquele ano) por Rinaldo Traini (amigo de Vasco Granja, e que eu também conheci pessoalmente). A quase totalidade de informações sobre novas edições estava a cargo de Jean Pierre Dionnet, e a direcção do fanzine apresentava o nome de Claude Moliterni, já falecido.
- Stripschrift - Fanzine holandês, o que sempre dificultou a sua difusão em Portugal, mal grado a qualidade dos seus colaboradores.
- Witzend - "Um dos mais belos fanzines publicados nos Estados Unidos (...) O número 8 (Verão de 1971) insere trabalhos de Wallace Wood, Bob Stewart, Ralph Reese (...) Steve Ditko (...), uma interpretação extremamente audaciosa de "The Hunting of the Snark", segundo Lewis Carroll, desenhada por John Adkins Richardson, e ainda magníficas ilustrações de Frank Frazetta para o poema de Edgar Allan Pöe, "The City in the Sea".


                                                   Número 3 - Setembro de 1972

Como se poderá ler perfeitamente (basta clicar em cima da imagem), a capa está ilustrada com o auto-retrato desenhado pelo artista-autor de BD espanhol Emilio Freixas.
Decorrendo logicamente desse pormenor, logo na página 3 é reproduzida uma prancha da bd "Los Dragones del Tibet", que no cabeçalho indica como autores, J.Canellas Casals, guion, Emilio Freixas, dibujos.
E ainda referente ao ilustre autor de BD, escreve o crítico e estudioso Antonio Lara, no fanzine "Bang!" dessa data (e não, claro, no homónimo recente francês):
"La originalidad y autarquia del estilo de Freixas no tiene tampoco paralelos en la historia del tebeo. Pocos artistas pueden presentar una técnica tan personal, que prácticamente no debe nada a nadie.(...)"


"Nico Rosso em Lisboa" é o título da entrevista, feita por Vasco Granja, que começa por apresentá-lo:
"O desenhador brasileiro Nico Rosso esteve de passagem durante dois dias no início de uma viagem de retorno à Europa para relembrar o passado (Nico nasceu na Itália, mas emigrou para o Brasil há vinte e cinco anos, para reconstruir a sua existência, pois a guerra devorara os seus bens).
Nico Rosso pode ser considerado como o mais famoso desenhador de temas fantásticos do Brasil. Entre as suas criações mais famosas contam-se as bandas desenhadas da série "Zé do Caixão", com argumentos escritos por Rubens Francisco Lucchetti (o mais fecundo escritor brasileiro de temas fantásticos), que se baseia na obra cinematográfica de José Mojica Marins, um realizador praticamente desconhecido fora do seu país. (...)
(Nota do bloguista: José Mojica Martins já esteve em Portugal, num festival de cinema de terror).


                                            

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